domingo, 14 de janeiro de 2018

Cem maneiras de amar Neruda

Pablo Neruda é um gênio, sabe por em palavras o que vai no coração como ninguém. Li somente "Os versos do capitão" há um bom tempo, daí não teve como não se apaixonar. Acho que ele esteve muito próximo de saber mesmo o que era amor, não sei... No minímo, sei que se alguém nos amasse como Matilde o foi, já teria valido a pena viver.


"Cem sonetos de amor" é divido em "manhã", "meio-dia", "tarde" e "noite". Diante das palavras ínfimas deste réles mortal que vos fala, deixo-os com quatro sonetos deste poeta magistral.

XXV

Antes de amar-te, amor, nada era meu:
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.

E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se despediam,
Perguntas que insistiam na areia.

Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado e decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio,

Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.


XLVI

Não te quero senão porque te quero,
e de querer-te a não querer-te chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.

Quero-te só porque a ti te quero.
Odeio-te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te como um cego.

Talvez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,

Nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor, a sangue e fogo.

XCIII


Se alguma vez teu peito se detém, 
se algo deixa de andar ardendo por tuas veias, 
se tua voz em tua boca se vai sem ser palavra, 
se tuas mãos se esquecem de voar e dormem, 

Matilde, amor, deixa teus lábios entreabertos 
porque esse último beijo deve durar comigo, 
deve ficar imóvel para sempre em tua boca 
para que assim também me acompanhe em minha morte. 

Morrerei beijando tua louca boca fria, 
abraçando o cacho perdido de teu corpo, 
e buscando a luz de teus olhos fechados. 

E assim quando a terra receber nosso abraço 
iremos confundidos numa única morte 
a viver para sempre de um beijo a eternidade. 

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